PTSD Radio – Frequências do Terror: um mergulho sombrio no terror psicológico (Masaaki Nakayama, 2025, Pipoca & Nanquim)
Grandes histórias de terror têm algo em comum: mais do que sustos, o que as torna atemporais é a construção de uma atmosfera tensa, sombria e imprevisível. Um bom exemplo é O Exorcista, clássico do cinema lançado em 1973. Embora a maquiagem e os efeitos especiais possam hoje parecer datados, o clima opressivo e o ambiente perturbador do filme continuam tão arrepiantes quanto há mais de 50 anos.
PTSD Radio – Frequências do Terror, de Masaaki Nakayama, segue essa mesma lógica com precisão. Apesar de recorrer com frequência aos jump scares — aqueles sustos repentinos, populares em filmes como Invocação do Mal —, o mangá se destaca pela atmosfera densa e inquietante que se intensifica a cada virada de página. Curiosamente, é justamente no ato de virar a página que muitos desses sustos acontecem, conduzindo o leitor a um verdadeiro jogo de tensão.
Nakayama opta por uma narrativa fragmentada em PTSD Radio. O título faz referência ao transtorno de estresse pós-traumático (Post-Traumatic Stress Disorder), o que se encaixa perfeitamente no tom da história. São 31 capítulos que variam entre contos curtos de apenas três páginas e narrativas mais longas. Inicialmente, a leitura pode parecer desconexa, como se fossem apenas relatos isolados. No entanto, conforme avançamos, percebemos que todos os eventos estão interligados: acontecem no mesmo local e compartilham um elemento comum. A narrativa não é linear, alternando entre passado e futuro, mas o recurso é bem aplicado e não prejudica a compreensão.
O autor mistura elementos do folclore japonês, arquétipos clássicos do terror e uma narrativa gráfica opressiva, construindo uma tensão que cresce a cada capítulo. A leitura desperta uma sensação de mitologia oculta e até mesmo de magia, atingindo o inconsciente do leitor e evocando medos que talvez nem soubéssemos ter. De certa forma, a experiência me lembrou a leitura de Promethea, de Alan Moore, que também proporciona uma jornada quase transcendental. Com PTSD Radio, a imersão foi semelhante — porém, mergulhei em um universo muito mais sombrio e aterrorizante.
A edição brasileira, publicada pela editora Pipoca & Nanquim, reúne dois volumes originais em 324 páginas impressas em papel pólen gold. A tradução, feita por Drik Sada, é excelente. A edição ainda conta com sobrecapa, capa colorida e marcador de páginas exclusivo — um acabamento primoroso, no padrão de qualidade pelo qual a PN se tornou referência.
PTSD Radio – Frequências do Terror traz consigo uma mitologia própria, tão intensa que chegou a impactar pessoalmente o autor, levando Masaaki Nakayama a abandonar a série. Este primeiro volume é apenas o começo dessa construção, e, segundo relatos de quem leu os volumes seguintes, a história se tornará ainda mais intensa e perturbadora.
Se você é fã de boas histórias de terror, este é, sem dúvida, um dos grandes lançamentos do ano.
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