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Jugulator (1997): o início da era esquecida do Judas Priest


O Judas Priest conseguiria continuar sem Rob Halford? Essa é a pergunta que Jugulator (1997) responde de forma corajosa, brutal e injustamente subestimada. Lançado sete anos após o icônico Painkiller (1990), Jugulator marca a estreia de Tim "Ripper" Owens como vocalista do Judas Priest. A escolha de Ripper — um fã que cantava em uma banda cover da própria Priest chamada British Steel — parecia saída de um conto de fadas do heavy metal. De fã para frontman, ele assumiu a difícil missão de ocupar o lugar de um dos vocalistas mais emblemáticos da história do gênero: Rob Halford.

Mas o cenário era ingrato. Nos anos 1990, o heavy metal tradicional enfrentava um período de baixa popularidade, encurralado pelo grunge, pelo alternativo e por novas formas de música pesada. E o Judas Priest não só precisava se reinventar após um hiato, como também provar que ainda era relevante sem sua voz original.

Jugulator não tentou emular o passado. Em vez disso, a banda dobrou a aposta na agressividade. O disco apresenta um som mais moderno, denso e sombrio, com guitarras afiadas e afinadas em tons mais graves, flertando com o thrash e o groove metal — influências de bandas como Pantera são perceptíveis, ainda que filtradas pela identidade clássica da Priest.


As faixas de destaque incluem a avassaladora “Jugulator”, a poderosa e épica “Cathedral Spires” (que fecha o álbum em grande estilo), além de “Blood Stained” e “Burn in Hell”, esta última talvez a mais próxima de um “hit” do disco. A performance de Ripper é impecável: ele não tenta copiar Halford, mas entrega vocais agressivos e técnicos, mostrando que estava à altura da tarefa.

Apesar de sua força, Jugulator é frequentemente negligenciado — tanto pelos fãs mais puristas quanto pela própria banda. O álbum não é lembrado em relançamentos oficiais, não está disponível nas principais plataformas de streaming e raramente tem faixas incluídas nos setlists ao vivo. Uma postura que ajuda a perpetuar a ideia equivocada de que esse capítulo deve ser esquecido.

Mas Jugulator merece ser redescoberto. É um trabalho ousado, pesado e que capturou, à sua maneira, a essência do Judas Priest enfrentando uma nova era. Um disco feito com coragem, talento e paixão — a mesma paixão que tirou Ripper do anonimato para o centro do palco. E só por isso já vale (re)ouvir com atenção.


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