Pular para o conteúdo principal

Entre o caos e o colapso: o Aerosmith de Rock in a Hard Place (1982)


É possível ter um disco do Aerosmith sem Joe Perry e Brad Whitford e ainda soar como Aerosmith? Essa é a pergunta inevitável ao se ouvir Rock in a Hard Place, o controverso álbum lançado em 1982 pela banda norte-americana. Único trabalho do grupo a não contar com os guitarristas originais Joe Perry (que saiu em 1979) e Brad Whitford (que abandonou o grupo durante as gravações), o disco é um capítulo à parte na discografia do Aerosmith — e justamente por isso merece ser revisitado com atenção.

Gravado em meio a uma fase turbulenta, marcada por brigas internas, abuso de drogas e o colapso comercial de Night in the Ruts (1979), Rock in a Hard Place foi uma tentativa de manter a banda viva enquanto seus membros mais icônicos se desintegravam. Para preencher a lacuna deixada por Perry, o guitarrista Jimmy Crespo assumiu o posto com personalidade, trazendo um estilo técnico e afiado. Rick Dufay também entrou em cena durante a turnê, mas Crespo foi o principal parceiro de Steven Tyler nas composições.

O resultado é um disco mais sombrio, pesado e cru do que os anteriores, algo que o diferencia não só pela formação, mas também pela sonoridade. Ainda que não traga hits do calibre de “Dream On” ou “Walk This Way”, o álbum oferece faixas que capturam o espírito rebelde e decadente da época.

Entre os destaques, “Jailbait” abre os trabalhos com um riff explosivo e vocais agressivos de Tyler, enquanto “Lightning Strikes” — o único single de relativo sucesso — entrega um hard rock direto, com pegada quase street metal. Já “Bitch’s Brew” e “Push Comes to Shove” flertam com atmosferas mais densas e grooves arrastados, refletindo a instabilidade emocional de Steven Tyler e a direção experimental que o grupo flertava naquele momento.


Apesar de suas qualidades, Rock in a Hard Place foi um fracasso comercial e de crítica. Fãs e imprensa rejeitaram a ausência de Perry e Whitford, e o álbum acabou sendo esquecido por anos. No entanto, com o distanciamento do tempo, ele ganhou status cult. Para muitos, é o retrato cru de uma banda no limite, tentando reencontrar sua identidade em meio ao caos.

O legado de Rock in a Hard Place reside justamente em sua singularidade. É o único registro de uma fase sombria, onde o Aerosmith quase deixou de existir — e também uma prova da resiliência de Steven Tyler, que manteve a chama acesa até o retorno triunfal da formação clássica em Done with Mirrors (1985).

Pode não ser o melhor disco do Aerosmith, mas certamente é um dos mais intrigantes.

Comentários

  1. Turbulento, mas superior ao disco da ‘volta’ com Perry e Whitford, Done With Mirrors

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu também acho o Rock in a Hard Place melhor que o Done with Mirrors. Inclusive, no meu ranking pessoal, este é o quinto melhor álbum da banda.

      Excluir
  2. CLÁSSICO ABSOLUTO!!! SÓ ISSO...

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.