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Sepultura em Chaos A.D. (1993): peso, política e legado eterno


Chaos A.D.
(1993) marcou um ponto de virada definitivo na carreira do Sepultura. Depois de conquistar o mundo com Beneath the Remains (1989) e consolidar seu nome no metal extremo com Arise (1991), a banda mineira decidiu mudar de rota. O thrash técnico, veloz e cheio de riffs intrincados cedeu espaço para algo mais cru, pesado e conectado com a realidade política e social da época.

O início dos anos 1990 era de ebulição: queda do Muro de Berlim, conflitos étnicos na Europa, o massacre do Carandiru no Brasil e a sensação de que o mundo estava à beira de uma implosão. Esse caldo de caos, violência e descontentamento permeou o disco. As letras deixaram de lado os cenários apocalípticos típicos do metal para mergulhar em críticas diretas a governos, prisões, violência policial e injustiças sociais.

Musicalmente, o Sepultura trouxe novas influências. O groove metal do Pantera, a agressividade do hardcore, o peso arrastado do doom e até elementos da música indígena brasileira entraram no caldeirão. “Refuse/Resist”, que abre o álbum, virou instantaneamente um hino: riff marcante, refrão explosivo e um clima de revolta que dialogava com a juventude do mundo todo. “Territory” escancarou a crítica ao imperialismo e ganhou um clipe icônico filmado em Israel. Já “Slave New World”, coescrita com Evan Seinfeld (Biohazard), trouxe o hardcore para dentro do som da banda.

Outros destaques são “Amen”, que mistura riffs secos com atmosfera sombria; “Kaiowas”, instrumental gravado ao vivo em ruínas de um castelo galês e inspirado no suicídio coletivo dos índios Kaiowá em protesto contra a perda de suas terras; e “Manifest”, relato brutal do massacre do Carandiru, narrado sem metáforas.

Chaos A.D. foi o disco que transformou o Sepultura de banda de metal extremo em referência mundial da música pesada. Ele abriu caminho para a experimentação radical de Roots (1996) e pavimentou a imagem do grupo como porta-voz de causas sociais dentro do metal. O álbum é um retrato da fúria dos anos 1990 e da maturidade de uma banda brasileira que, naquele momento, estava entre as mais importantes do planeta.


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