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Mostrando postagens de setembro, 2025

Opeth e a magia de Sorceress (2016): a virada psicodélica do prog metal

O Opeth chegou ao álbum Sorceress (2016) em um momento de virada consolidada. Depois de quase duas décadas se firmando como uma das maiores bandas do metal progressivo moderno, os suecos liderados por Mikael Åkerfeldt haviam deixado para trás os vocais guturais e o death metal sombrio que marcaram discos como Blackwater Park (2001) e Ghost Reveries (2005). A mudança veio em Heritage (2011), aprofundou-se em Pale Communion (2014) e ganhou contornos mais ousados e psicodélicos aqui. O disco mostra uma banda apaixonada pelos anos 1970, mergulhando sem medo em influências de King Crimson, Camel, Jethro Tull, Gentle Giant e até mesmo Led Zeppelin. O peso ainda aparece, mas em outro formato: riffs setentistas, graves encorpados e uma produção quente, analógica, que privilegia texturas. Mikael sempre deixou claro que cresceu ouvindo muito mais rock progressivo e folk do que metal extremo, e Sorceress é a expressão mais livre dessa herança. Após a introdução “Persephone”, a faixa-tít...

The Black Keys florescem após a tempestade em No Rain No Flowers (2025)

O The Black Keys sempre foi um caso curioso no rock contemporâneo. A dupla formada por Dan Auerbach e Patrick Carney surgiu no início dos anos 2000 mergulhando fundo no blues cru, garageiro e sem firulas, conquistando espaço pela energia direta e pelo senso de autenticidade. Com o tempo, a sonoridade foi se abrindo: chegaram os arranjos mais ricos de Brothers (2010), a explosão comercial de El Camino (2011) e experimentações que flertaram com o pop e a psicodelia em Turn Blue (2014). O caminho da banda, desde então, oscilou entre revisitar suas raízes e tentar algo novo, quase sempre com resultados interessantes. No Rain No Flowers , lançado em 2025, dá sequência a esse movimento de olhar para frente sem esquecer de onde vieram. O título já sugere uma reflexão: sem a dor e a luta, não há beleza. E é exatamente essa dualidade que permeia o álbum. Depois de um 2024 conturbado — cancelamento de turnê nos EUA, problemas de gestão e o desempenho abaixo do esperado de Ohio Players (202...

Iron Maiden e a ousadia futurista de Somewhere in Time (1986)

O Iron Maiden chegou à metade da década de 1980 em um ponto decisivo. Após o sucesso estrondoso de The Number of the Beast (1982), Piece of Mind (1983) e Powerslave (1984), além da gigantesca World Slavery Tour eternizada no ao vivo Live After Death (1985), a banda estava no auge comercial e criativo. Mas também esgotada. Bruce Dickinson, por exemplo, queria levar o grupo para caminhos mais acústicos e intimistas, mas Steve Harris tinha outra visão: era hora de expandir o som, sem perder a grandiosidade conquistada. O resultado dessa tensão foi Somewhere in Time ( 1986). O disco marcou a estreia dos sintetizadores de guitarra no som do Iron Maiden. Não se tratava de teclados convencionais, mas de efeitos aplicados às guitarras de Adrian Smith e Dave Murray, criando uma ambientação futurista que se encaixava com perfeição no conceito visual de ficção científica e distopia. A capa de Derek Riggs é até hoje uma das mais detalhadas e icônicas do metal, com dezenas de referências esc...

Entre o caos e a inovação: Voivod e a estranheza barulhenta de Rrröööaaarrr (1986)

O Voivod nunca foi uma banda fácil de rotular. Desde os primeiros passos, os canadenses se mostraram interessados em explorar territórios além do metal tradicional, misturando velocidade, agressividade e um senso de estranheza que logo se tornaria sua marca registrada. Rrröööaaarrr , lançado em 1986, é o segundo álbum da banda e um documento cru, barulhento e desafiador de uma época em que o thrash metal ainda estava em plena mutação. O disco chegou dois anos depois da estreia War and Pain (1984), um álbum mais próximo do Venom e do Motörhead, carregado de sujeira e urgência. Já em Rrröööaaarrr percebe-se uma transição: a sonoridade ainda é agressiva e pouco polida, mas o Voivod começa a deixar claro que não se contentaria em ser apenas mais um grupo de thrash. Há dissonâncias, riffs quebrados e climas quase industriais que apontam para o que viria a seguir em Killing Technology (1987) e, especialmente, em Dimension Hatröss (1988). As influências principais ainda passam pelo Mo...

Com Espresso Della Vita: Lunare (2025), Maestrick entrega um dos grandes álbuns conceituais do metal brasileiro

A banda brasileira Maestrick retorna com Espresso Della Vita: Lunare , segunda parte de sua ambiciosa obra conceitual iniciada com Espresso Della Vita: Solare (2018). Enquanto o primeiro álbum explorava as 12 horas do dia, Lunare mergulha nas 12 horas da noite, abordando temas densos como vícios, preconceito, abuso e o Holocausto, narrados através da jornada do personagem Dante, uma clara alusão a Dante Alighieri. Musicalmente, o álbum é um passeio pelo metal progressivo, mas com camadas de swing, jazz, música clássica e ritmos brasileiros. Faixas como “Upside Down”, “Ghost Casino” e “Mad Witches” lembram o Diablo Swing Orchestra, com riffs pesados e seções de metais e piano. O álbum se enriquece com colaborações: Tom Englund (Evergrey) divide os vocais em “Boo!”, Jim Grey (Caligula’s Horse) apresenta sua voz em “Dance of Hadassah”, o grupo de Maracatu Baque Mulher marca presença em “Agbara”, e Roy Khan (Conception, ex-Kamelot) brilha em “Lunar Vortex”, alternando vocais com Fábio...

Asilo Arkham: clássico perturbador do Batman sofre em nova edição da Panini (DC de Bolso, Grant Morrison, Dave McKean, 2025, Panini)

Publicado originalmente em 1989, Asilo Arkham: Uma Séria Casa em um Sério Mundo é um dos quadrinhos mais perturbadores e impactantes já produzidos sobre o Batman. Escrita por Grant Morrison e ilustrada por Dave McKean, a obra nasceu em um período em que os quadrinhos de super-heróis buscavam maturidade, embalados pelo sucesso de Watchmen , de Alan Moore, e O Cavaleiro das Trevas , de Frank Miller. A ideia de Morrison foi mergulhar não na grandiosidade épica das histórias clássicas do herói, mas em sua psique fragmentada e nos limites entre sanidade e loucura. Inspirado pela obra de Carl Jung, por simbolismos alquímicos e pelo imaginário surreal, o roteiro coloca Batman diante de um desafio que é menos físico e mais mental: enfrentar seus maiores inimigos dentro do Asilo Arkham, que tomaram o controle da instituição. O confronto com Coringa, Duas-Caras e outros vilões funciona como uma descida ao inferno pessoal do próprio herói, que precisa encarar seus medos mais íntimos para sobre...

Deicide e a persistência do ódio: uma análise de Serpents of the Light (1997)

O Deicide chegou aos anos 1990 como uma das bandas mais polêmicas e brutais do death metal. Depois da estreia homônima em 1990 e dos excelentes Legion (1992) e Once Upon the Cross (1995), o grupo já era um nome consolidado dentro da cena extrema, tanto pela sonoridade violenta quanto pela postura antirreligiosa de Glen Benton, vocalista e baixista. Serpents of the Light , lançado em 1997, mantém essa identidade, mas também marca um momento de certa repetição dentro da fórmula que a banda havia ajudado a definir. O disco traz dez faixas diretas, sem firulas e sem espaço para respiro. O death metal aqui é simples, veloz e repleto de riffs que seguem a cartilha mais tradicional do estilo. Eric e Brian Hoffman assinam guitarras cortantes, recheadas de palhetadas rápidas e solos caóticos, enquanto Steve Asheim segura a bronca na bateria com blast beats e grooves que sustentam a fúria vocal de Benton. A produção é crua, típica da época, dando ao álbum uma atmosfera seca que amplifica a a...

Dark Passion Play (2007): o álbum que redefiniu o futuro do Nightwish

Dark Passion Play (2007) marcou um dos capítulos mais turbulentos e decisivos da carreira do Nightwish. Após a polêmica demissão da vocalista Tarja Turunen em 2005, a banda finlandesa se viu em uma encruzilhada: seguir em frente ou ser engolida pelo peso de sua própria história. A escolha por Anette Olzon, até então pouco conhecida, trouxe uma mudança radical e colocou o grupo no centro de uma expectativa gigantesca. O disco mostra um Nightwish ciente da responsabilidade de provar sua relevância sem a voz que havia se tornado sua marca. A produção é grandiosa, comandada por Tuomas Holopainen, com orquestra completa regida por Pip Williams, gravada em Abbey Road e explorando ainda mais as texturas cinematográficas que a banda já vinha experimentando. Musicalmente, Dark Passion Play equilibra o peso do metal sinfônico com arranjos orquestrais exuberantes. O álbum abre com a épica “The Poet and the Pendulum”, uma suíte de quase 14 minutos que resume os dilemas pessoais de Tuomas e o...

Entre o sufoco e a memória: Dormindo Entre Cadáveres, o quadrinho que expõe o horror da pandemia (Luís Moreira Gonçalves, Felipe Parucci, 2025, Comix Zone)

Dormindo Entre Cadáveres , de Luís Moreira Gonçalves (roteiro) e Felipe Parucci (arte), é uma HQ incômoda, porém necessária. Publicado pela Comix Zone em capa dura e com 320 páginas em preto e branco, o quadrinho transforma em arte um dos períodos mais brutais da história recente: os meses em que a pandemia de COVID-19 colapsou o sistema de saúde na Amazônia. Gonçalves é um médico português que esteve na linha de frente do combate à pandemia em Rondônia. O que ele viveu nos plantões — a exaustão, o desespero, a impotência diante de mortes diárias — virou matéria-prima para o roteiro. Não há filtros nem romantização: o quadrinho é construído em fragmentos de lembrança, sonho e trauma, criando um relato cru, inquietante e perturbador. A arte de Felipe Parucci intensifica ainda mais o peso da narrativa. O traço é solto, expressivo, quase sujo, transmitindo angústia a cada quadro. O preto e branco reforça o clima opressivo, enquanto a escolha por desenhos exagerados e expressões que se...

Quando o thrash encontrou técnica e melodia: Annihilator e o clássico Never, Neverland (1990)

O final dos anos 1980 e o início dos 1990 marcaram a saturação do thrash metal. A cena já havia entregado clássicos incontestáveis – de Metallica, Slayer, Megadeth, Anthrax, Exodus, Testament e tantos outros –, e a fórmula começava a mostrar sinais de desgaste. Foi nesse cenário que surgiu o canadense Annihilator, liderado por Jeff Waters, guitarrista, compositor e mente criativa da banda. Depois de estrear com Alice in Hell (1989), disco que chamou atenção pela técnica e pelas composições afiadas, o Annihilator voltou um ano depois com Never, Neverland . A diferença crucial estava nos vocais: Randy Rampage saiu, e quem assumiu o microfone foi Coburn Pharr, que havia passado pelo Omen. A troca foi acertada – Pharr trouxe mais alcance e variação, expandindo as possibilidades da banda. Musicalmente, Never, Neverland é thrash técnico de primeira linha, mas com melodias bem trabalhadas e arranjos inteligentes que se afastam do clichê. Jeff Waters não apenas toca riffs intrincados com...

O impacto de Ballbreaker (1995): como o AC/DC resistiu às tendências da década de 1990

O AC/DC sempre foi uma daquelas bandas que não mudam sua fórmula. E, na real, isso nunca foi um problema — pelo contrário, virou marca registrada. Mas, no início dos anos 1990, a situação estava diferente. Depois de The Razors Edge (1990), que trouxe o sucesso inesperado de “Thunderstruck”, a banda entrou em hiato. Brian Johnson atravessava problemas pessoais, e a relação interna se desgastava. Foi nesse cenário que os irmãos Angus e Malcolm Young decidiram resgatar um velho aliado: Phil Rudd, o baterista clássico do grupo, fora desde 1983. A volta dele foi essencial para o peso e a pegada de Ballbreaker (1995). Produzido por Rick Rubin, então no auge após revitalizar nomes como Slayer e Red Hot Chili Peppers, o disco prometia devolver ao AC/DC a crueza setentista. Rubin sempre foi um devoto do rock básico, e sua ideia era clara: tirar o excesso, voltar à essência e capturar a eletricidade do quinteto em estado bruto. O resultado, no entanto, é um álbum que divide opiniões. Ballb...

Reedição da biografia de Júpiter Maçã traz fotos, entrevistas e material inédito

A partir desta quinta-feira (25) começa a pré-venda da reedição de Júpiter Maçã: A Efervescente Vida & Obra , biografia escrita pelos jornalistas Cristiano Bastos e Pedro Brandt. O livro passou por uma revisão completa, ganhou novas informações, entrevistas exclusivas feitas com o próprio Júpiter, além de mais de 130 fotos distribuídas em três cadernos coloridos que percorrem a trajetória de Flávio Basso desde a infância, passando pelo TNT, Cascavelletes e pelas várias encarnações solo – seja como Júpiter Maçã ou Jupiter Apple. O pesquisador e colecionador Zeca Azevedo também participou da revisão, enquanto o designer Rafael Cony assinou um projeto gráfico inédito. Além disso, a nova edição traz duas entrevistas inéditas realizadas pelos autores com Júpiter em diferentes momentos de sua carreira, cinco novas opções de capa, discografia atualizada e um posfácio assinado por Bento Araújo (revista Poeira Zine e autor da trilogia Lindo Sonho Delirante ). Publicada originalmente ...

Entre o hard, o pop e a escuridão: o Black Sabbath mais experimental de Technical Ecstasy (1976)

Em 1976, o Black Sabbath já não era mais a mesma banda que havia definido o heavy metal no início da década. Depois de uma sequência impecável de discos – de Black Sabbath (1970) a Sabotage (1975) –, o grupo se encontrava esgotado, tanto física quanto criativamente. As drogas consumiam cada vez mais os integrantes, a pressão da gravadora exigia novidades e, em meio a tudo isso, a cena musical passava por transformações: o rock progressivo dominava as arenas, o funk e a soul music ganhavam espaço, e o punk começava a nascer nas ruas da Inglaterra. É nesse turbilhão que surge Technical Ecstasy , um disco muitas vezes mal compreendido dentro da discografia da banda. Gravado em Miami, o álbum mostra o Black Sabbath tentando expandir horizontes. Tony Iommi buscava novas sonoridades, adicionando teclados, arranjos mais sofisticados e flertes com o hard rock e até com o pop. Bill Ward e Geezer Butler sustentam a base com competência, mas é perceptível que a espontaneidade dos primeiros a...

Manger Cadavre? em Como Nascem os Monstros (2025): brutalidade e crítica social em dose máxima

O quarto álbum do Manger Cadavre? chega em 2025 como um registro visceral e urgente, consolidando a identidade extrema do grupo dentro do death metal, crust e hardcore brasileiro. Com Como Nascem os Monstros , a banda não apenas reafirma sua sonoridade agressiva, mas também constrói um conceito poderoso: os medos e monstros que nos cercam são moldados por discursos de ódio, abusos de poder e a naturalização da crueldade. Musicalmente, o disco une peso e clareza. A ótima produção mantém a crueza característica do estilo, permitindo que cada riff, bateria e vocal – intensos e afiados – se destaquem sem perder a força do conjunto. As influências passam por ícones do death e grindcore, mas o quarteto formado por Nata (vocal), Paulinho (guitarra), Bruno (baixo) e Marcelo (bateria) imprime personalidade própria, mostrando que sua agressividade sonora sempre caminha lado a lado com letras críticas e reflexivas. Destaque para os excelentes vocais de Nata, extremos e guturais, porém audíveis ...

Falling Into Infinity (1997): o Dream Theater entre o virtuosismo e a acessibilidade

Falling Into Infinity (1997) surge em um momento delicado da carreira do Dream Theater. A banda, já consagrada como um dos pilares do metal progressivo, vinha de álbuns complexos e conceituais como Images and Words (1992) e Awake (1994). Para este registro, a gravadora pressionava por canções mais curtas e acessíveis, o que gerou tensões criativas internas e uma série de decisões controversas na produção. O álbum reflete uma dualidade: de um lado, a técnica impecável de John Petrucci, John Myung, Mike Portnoy, James LaBrie e Derek Sherinian (aqui no seu único álbum de estúdio com a banda). Do outro, uma busca por melodias mais imediatas e refrões memoráveis. Essa tensão entre virtuosismo e acessibilidade marca o disco de forma palpável. Entre as faixas mais memoráveis estão “Peruvian Skies”, com seu clima introspectivo e solos de guitarra emocionantes, e “Trial of Tears”, épica de mais de treze minutos que retoma o lado progressivo e narrativo da banda. “Burning My Soul” e “Holl...

Iron Maiden em dúvida: Bruce quer gravar novo álbum, mas Steve Harris não está tão animado com a ideia

Lançado em 2021, Senjutsu dividiu opiniões, mas também deixou no ar uma dúvida que ronda os fãs desde então: será esse o último álbum de estúdio do Iron Maiden? A questão voltou à tona após declarações recentes de Bruce Dickinson e Steve Harris. Durante entrevista à Metal Hammer , o vocalista contou ter sugerido um novo trabalho para a banda após se impressionar com a performance de Simon Dawson, que assumiu a bateria no lugar de Nicko McBrain nas turnês mais recentes. “Eu disse: ‘O baterista está se saindo muito bem, não está? Talvez devêssemos fazer um álbum novo’. Mas Steve resmungou e disse: ‘Não tenho tempo’” , revelou Bruce. O líder e principal compositor da Donzela confirmou a história, mas não mostrou entusiasmo: “Não sei, essa é a resposta para isso. Compor é estressante. Eu me tranco e me torturo por algumas semanas. Não diria que é traumático, mas dá um trabalho danado.” Essa não é a primeira vez que Harris expressa cansaço em relação ao processo criativo. Ainda em 20...

Best of the Beast (1996): a clássica coletânea que congelou a história do Iron Maiden nos anos 1990

Best of the Beast (1996) foi a primeira compilação oficial da carreira do Iron Maiden e surgiu em um momento turbulento para a banda. Bruce Dickinson havia deixado o grupo em 1993, Blaze Bayley assumira os vocais e o álbum The X Factor (1995) dividira opiniões, trazendo uma sonoridade mais sombria e introspectiva. Diante desse cenário, a EMI decidiu lançar uma coletânea que consolidasse o legado já construído, ao mesmo tempo em que apresentava a nova formação ao grande público. O material saiu em diferentes formatos: uma versão simples em CD, CD duplo standard, box em CD duplo e até um box especial com quatro LPs. Essa multiplicidade reforçava a tentativa de alcançar desde o fã casual até o colecionador mais dedicado. Mais do que um “greatest hits”, Best of the Beast funciona como um verdadeiro retrato da trajetória da banda até então, cobrindo desde os primeiros singles com Paul Di’Anno até as composições inéditas gravadas com Blaze. A seleção de músicas é robusta e dá uma visão...

A Caminho do Sol, de Helcio de Carvalho: aventuras e lições de uma vida dedicada aos quadrinhos (2025, Mythos Editora)

A Caminho do Sol: Minha Jornada em Busca de Mim Mesmo e Outras Aventuras é um livro singular, pois reúne os dois pontos principais que marcam a vida de seu autor, Helcio de Carvalho: a paixão pelos quadrinhos e a longa trajetória no mercado editorial brasileiro, e a busca incessante por elevação espiritual. Um dos sócios da Mythos Editora, Helcio conta a sua trajetória de forma franca e leve, proporcionando uma experiência de leitura muito agradável. O livro acompanha a trajetória de um garoto simples, apaixonado por gibis e desenho, que sonhava em pilotar aviões e, mais tarde, em ser médico. A vida, no entanto, o conduziu a um caminho inesperado: a Editora Abril. Lá, Helcio começou como colorista, passou a tradutor e se tornou editor de revistas em quadrinhos, organizando de forma pioneira o universo Marvel e DC no Brasil. Com humor e simplicidade, ele revela as histórias pouco conhecidas do mercado editorial: a introdução de artistas brasileiros no exterior, a criação da Mythos ...

Spirits of Ghosts: Act V (2025): a consagração do SoulSpell, a maior metal ópera brasileira

O SoulSpell, projeto de metal operístico criado pelo baterista e compositor Heleno Vale, já tem uma trajetória consolidada como o grande representante brasileiro do formato metal ópera, aquele estilo marcado por narrativas conceituais, múltiplos vocalistas e arranjos grandiosos. Desde o lançamento de A Legacy of Honor (2008), o grupo vem expandindo sua proposta, sempre dialogando com os trabalhos de mestres como Tobias Sammet (Avantasia), Arjen Lucassen (Ayreon) e até as ambições progressivas do Dream Theater. Spirits of Ghosts: Act V , lançado em 2025, representa mais do que apenas um novo capítulo na discografia do grupo: é a obra mais madura do SoulSpell até aqui. Heleno Vale mantém a fórmula de reunir um elenco variado de vocalistas — uma marca registrada que dá ao projeto identidade própria — mas agora tudo soa ainda mais orgânico, com a narrativa fluindo de maneira coesa e sem excessos. A produção também é um ponto alto: pesada, cristalina e moderna, sem perder a dramaticidade...

Menina Infinito: o retrato indie da juventude nos quadrinhos brasileiros (2008, Desiderata)

Publicado em 2008 pela Desiderata, Menina Infinito marcou a estreia de Fábio Lyra em um formato mais longo, depois de experiências em fanzines e coletâneas independentes. O álbum apresenta Mônica e seu grupo de amigos, jovens que atravessam a rotina de shows, mixtapes, blogs e pequenos dramas cotidianos. À primeira vista, é uma HQ sobre juventude, mas, à medida que as páginas avançam, o que se revela é um retrato afetivo e melancólico de uma geração que cresceu à sombra da cultura pop e da cena indie dos anos 2000. O desenho de Lyra é limpo, direto e eficiente — sua economia de linhas transmite intimidade e aproxima o leitor dos personagens. Essa escolha estética torna os dilemas de Mônica mais palpáveis, intensificando a identificação com figuras que poderiam facilmente ser nossos amigos de faculdade ou conhecidos de shows em porões alternativos. A força de Menina Infinito está justamente no modo como captura esse recorte cultural, repleto de referências musicais e da efervescên...