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Kick (1987): o álbum que colocou o mundo aos pés do INXS


Em meados dos anos 1980, o INXS já era uma banda grande — mas Kick foi o disco que os transformou em gigantes. Depois do sucesso de Listen Like Thieves (1985), o grupo australiano liderado por Michael Hutchence e pelos irmãos Tim e Jon Farriss voltou ao estúdio decidido a dar um salto. O objetivo era claro: unir o groove, o funk e o soul que sempre os acompanhou com a força do pop e o brilho radiofônico que dominavam o final da década. O resultado foi um álbum que capturou perfeitamente o espírito de 1987 — vibrante, elegante, dançante — e que ainda soa incrivelmente atual.

Produzido por Chris Thomas (mesmo nome por trás de discos do Sex Pistols, Pretenders e Pulp), Kick é o equilíbrio perfeito entre sensualidade e precisão pop. Thomas soube polir o som da banda sem tirar sua identidade, ampliando os sintetizadores e os metais, mas mantendo o groove característico de faixas como “Need You Tonight” e “New Sensation”. Essas músicas se tornaram hinos imediatos, impulsionadas pelo carisma magnético de Hutchence, que aqui atingiu o auge de sua persona de rockstar: provocante, elegante e perigosamente charmosa.

O álbum é uma aula de sequência e coesão. Depois da abertura com “Guns in the Sky”, com sua batida tribal e vocais quase falados, vem uma sucessão de hits que define o conceito de flow em um disco de pop-rock: “New Sensation”, “Devil Inside”, “Need You Tonight”, “Mediate” — esta última uma espécie de ponte onírica que emenda perfeitamente com o hit anterior e homenageia Bob Dylan em seu vídeo inspirado em “Subterranean Homesick Blues”. Kick é cheio desses detalhes sutis, que mostram como o INXS estava mirando alto e pensando em todos os aspectos: som, imagem e atitude.

Mas o álbum não vive apenas de singles. “Mystify”, com sua linha de piano envolvente, é puro romantismo soul. “Never Tear Us Apart”, talvez a faixa mais emblemática do grupo, mistura blues, pop e orquestração em uma das baladas mais poderosas dos anos 1980 — uma canção que atravessou décadas e permanece viva, seja em trilhas sonoras, festas ou shows tributo. Há também momentos mais obscuros e cheios de textura, como “Wild Life” e “Calling All Nations”, que reforçam a habilidade da banda em transitar entre o pop de arena e o funk urbano.


Com Kick, o INXS conquistou o mundo. O álbum chegou ao topo das paradas em diversos países, vendeu mais de 20 milhões de cópias e consolidou a banda como um dos maiores nomes do pop rock australiano. Mais que isso, definiu o som de uma era: o cruzamento entre o rock e o pop de pista, entre o hedonismo oitentista e a sofisticação de uma produção moderna.

Kick é um trabalho espetacular. De um lado, está o retrato de um tempo em que o mainstream ainda abraçava o risco e a criatividade — quando bandas de rock podiam soar dançantes sem perder credibilidade. De outro, está o símbolo de um frontman que encarnava o mito do rock em sua forma mais sedutora. Michael Hutchence foi, por alguns anos, o último grande astro com aura de mistério e magnetismo puro.

Quase quatro décadas depois, Kick continua a ser um daqueles discos que sintetizam uma década inteira — e que, ao mesmo tempo, escapam dela. Um álbum que brilha, que pulsa e que ainda convida para a pista de dança com a mesma energia de 1987.


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