Em 1982 o Accept já tinha três discos no currículo – Accept (1979), I’m a Rebel (1980) e Breaker (1981) -, mas ainda não havia encontrado a fórmula que o levaria a ser uma das bandas mais importantes da história do heavy metal. Restless and Wild, lançado em outubro daquele ano, é o ponto de virada. Aqui o grupo alemão finalmente cristalizou sua identidade: riffs afiados, vocais rasgados de Udo Dirkschneider e uma sonoridade agressiva que apontava para o futuro.
O contexto da época ajuda a entender o impacto. O heavy metal britânico vivia a era de ouro da NWOBHM, com Iron Maiden, Judas Priest e Saxon puxando a cena. A Alemanha tinha uma cena incipiente, ainda tentando se firmar com nomes como Scorpions e Grave Digger. O Accept chegou para preencher essa lacuna, entregando um som que misturava o peso inglês com uma urgência quase punk. A abertura com “Fast as a Shark” é considerada por muitos o primeiro registro do speed metal – aquele ataque inicial, após a introdução com um vinil tocando música folclórica alemã, é um dos momentos mais emblemáticos da história do gênero.
O álbum equilibra velocidade e peso com inteligência. Além da velocidade do hino “Fast as a Shark”, temos faixas como “Restless and Wild”, com riffs marcantes e refrão chiclete, e “Princess of the Dawn”, talvez a canção definitiva da primeira fase da banda, com sua cadência hipnótica e atmosfera épica. “Neon Nights” e “Shake Your Heads” mostram o lado mais direto, enquanto “Flash Rockin’ Man” traz aquela energia rebelde típica do início dos anos 1980.
As influências são claras: Judas Priest no peso e nas guitarras gêmeas de Wolf Hoffmann e Herman Frank, AC/DC na simplicidade dos riffs e a crueza do Motörhead no ataque rítmico. Mas o Accept já soava como Accept. Restless and Wild consolidou a estética que a banda levaria adiante em Balls to the Wall (1983) e Metal Heart (1985), e que inspiraria legiões de grupos alemães, do Helloween ao Kreator.
O disco não estourou comercialmente de início, mas virou referência para músicos e fãs. O peso, a velocidade e a agressividade abriram caminho para o speed e o power metal germânico, além de exercer influência direta no thrash que estava nascendo nos Estados Unidos.
Mais de 40 anos depois, Restless and Wild continua soando fresco e relevante. É um daqueles álbuns que não apenas marcaram época, mas ajudaram a moldar o próprio heavy metal. Se a Alemanha se tornou um dos berços do metal pesado, muito disso se deve à coragem e à ousadia que o Accept mostrou aqui.
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