Delicate Sound of Thunder (1988) registra o Pink Floyd em um momento raro: o renascimento público de uma banda monumental tentando provar que ainda era capaz de erguer catedrais sonoras sem Roger Waters por perto. Gravado em agosto de 1988 no Nassau Coliseum, em Nova York, o álbum captura a formação liderada por David Gilmour, com Nick Mason e o então retornado Richard Wright, navegando pela turnê de A Momentary Lapse of Reason (1987) com a segurança de quem sabia que carregava um legado, mas precisava reafirmá-lo ao vivo.
O que se ouve é uma performance extremamente precisa. Para muitos, precisa até demais. Delicate Sound of Thunder não tenta esconder seu acabamento polido, quase clínico, que dá às músicas a sensação de terem sido esculpidas em estúdio diante de plateia. É o tipo de álbum ao vivo que aposta na clareza e na solidez do som, não na espontaneidade. E isso divide opiniões até hoje. Há quem enxergue frieza nos arranjos e rigidez na execução, e há quem valorize a nitidez e a beleza da mixagem, que coloca cada detalhe no lugar — das atmosferas de teclado às guitarras cristalinas de Gilmour.
No repertório, a banda equilibra o então novo material de A Momentary Lapse of Reason com a espinha dorsal do Pink Floyd clássico. “Learning to Fly” e “The Dogs of War” funcionam especialmente bem, ganhando mais corpo ao vivo, assim como a monumental “Sorrow”. Já faixas como “Time”, “Wish You Were Here” e “Comfortably Numb” aparecem reinterpretadas com pequenos ajustes — alguns inevitáveis, outros feitos em estúdio, como sobreposições instrumentais e retoques vocais. Puristas torceram o nariz, mas o resultado reforça a estética grandiosa dessa fase.
A crítica da época enxergou o álbum como uma declaração de sobrevivência da banda, enquanto análises posteriores passaram a avaliá-lo com mais distanciamento técnico. Muitos elogiam a nitidez e a precisão do som, mas apontam a falta daquela ambiência característica das gravações originais — a respiração natural que dava mais vida às faixas. Também é recorrente a observação de que a ausência de Roger Waters paira sobre o repertório, não por comprometer a performance, mas porque a própria história da banda torna impossível ignorar esse fantasma sempre presente.
A reedição remixada de 2019 reacendeu o interesse por Delicate Sound of Thunder. Com mais faixas, restauração cuidadosa e uma nova abordagem sonora, o álbum ganhou amplitude, presença e profundidade. Essa atualização permitiu que muitos ouvintes revisitassem o registro com olhar mais generoso, percebendo nuances e detalhes que antes se perdiam na mixagem original.
Revisitado hoje, Delicate Sound of Thunder funciona como documento histórico. É a fotografia de uma banda em reconstrução, segurando firme a própria identidade enquanto procurava uma nova voz dentro de um passado gigantesco. Nem sempre quente, nem sempre audacioso, mas quase sempre majestoso — e, acima de tudo, importante. É o Pink Floyd provando, ao vivo, que ainda era o Pink Floyd.
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