O thrash metal brasileiro sempre foi um terreno fértil para bandas que enxergam o gênero não apenas como catarse, mas como veículo de mensagem. É dessa linhagem que surge o No More Death, projeto idealizado por Tiago Torres (fundador, vocalista e guitarrista do Mad Dragzter), e que estreia com o sólido The Death Is Dead. O disco é um manifesto de fé, técnica e fúria — uma declaração sonora que une convicção espiritual e brutalidade musical.
Lançado em julho de 2025, o álbum traz oito faixas em pouco menos de quarenta minutos, tempo suficiente para apresentar um som preciso e direto, que dialoga com o thrash da Bay Area sem perder o DNA brasileiro. A produção, assinada em parceria com Demis Kohler, valoriza a nitidez dos riffs sem diluir o peso das guitarras. Há um equilíbrio entre a crueza e a clareza que deixa tudo soar atual, mas sem trair a escola clássica que molda o gênero.
A faixa-título abre o disco com um riff cortante e uma bateria implacável, estabelecendo o clima apocalíptico que permeia toda a obra. “Thy Glory” expande essa atmosfera com andamentos épicos e vocais que alternam entre o grito e o sermão — a fúria de quem enxerga redenção no meio do caos. “Great White Throne” reforça essa dualidade entre destruição e esperança, enquanto “Forever Young” e “Sons of Light” trazem linhas melódicas discretas que ampliam o alcance do som sem comprometer a ferocidade.
O conceito lírico é o grande diferencial de The Death Is Dead. Em vez de explorar o niilismo que costuma acompanhar o thrash metal, o álbum se ancora em uma visão cristã do fim dos tempos — inspirada, inclusive, em passagens do Apocalipse. Essa escolha dá ao trabalho uma identidade singular: o discurso é de fé e transcendência, mas transmitido com o mesmo vigor e intensidade de qualquer hino de guerra metálico. É a vitória da vida sobre a morte, traduzida em guitarras afiadas e bateria explosiva.
“Annihilated” resume o espírito do disco: curta, direta e avassaladora. Já “Dreams About Eternity” e “Love Is Immortal” encerram o álbum com uma nota quase contemplativa, apontando para algo além da destruição. A mensagem final é clara: a morte, conceito central do metal extremo desde sempre, aqui é derrotada. Não pela negação da dor, mas pela certeza de que há algo maior depois dela.
The Death Is Dead é, acima de tudo, um disco autêntico. Em um momento em que o thrash muitas vezes se contenta em reproduzir fórmulas antigas, o No More Death entrega um trabalho que respeita a tradição, mas a utiliza como base para algo mais profundo. É o som de uma fé inabalável expressa em distorção máxima. O resultado é um dos lançamentos mais intensos e inspirados do metal brasileiro recente.


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