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Frank Zappa e a genialidade em expansão de The Grand Wazoo (1972)


Em meio ao caos criativo que marcou o início da década de 1970, Frank Zappa estava se reinventando. Após o ataque sofrido em 1971 durante um show em Londres — que o deixou meses imobilizado e o afastou dos palcos —, o guitarrista, compositor e bandleader voltou sua atenção para o estúdio. O resultado dessa reclusão forçada foi um mergulho profundo no jazz, na música orquestral e na liberdade total que só ele era capaz de articular. The Grand Wazoo, lançado em novembro de 1972, é o ápice dessa fase instrumental, uma continuação natural e mais expansiva do também brilhante Waka/Jawaka, lançado alguns meses antes.

Aqui, Zappa assume definitivamente a persona de maestro. A formação é quase uma big band — cerca de vinte músicos —, e o álbum soa como a fusão entre o jazz de vanguarda de Sun Ra, o swing orquestral de Duke Ellington e a complexidade rítmica que Miles Davis vinha explorando em Bitches Brew (1970). Mas é tudo filtrado pelo cérebro zappiano: sarcástico, técnico e inclassificável.

A faixa-título abre o disco como uma explosão controlada. Sopros em camadas, guitarras cortantes e uma base rítmica intrincada formam uma sinfonia jazz-rock que tanto evoca a grandiosidade do big band quanto a anarquia do rock progressivo. “For Calvin (And His Next Two Hitch-Hikers)” é mais experimental, quase um delírio sonoro que mistura vozes, ruídos e improvisos livres, uma espécie de colagem musical que antecipa o que Zappa desenvolveria nos álbuns orquestrais posteriores. Já “Eat That Question” é um dos momentos mais acessíveis: um groove hipnótico de teclado elétrico e guitarra, que sintetiza o equilíbrio raro entre virtuosismo e feeling. E o encerramento com “Blessed Relief” é pura contemplação — uma balada jazzística com alma espiritual, que revela o lado mais emotivo e humano de um artista muitas vezes rotulado como cerebral demais.


The Grand Wazoo
não teve o impacto comercial dos discos mais satíricos de Zappa, mas seu legado é imenso. O álbum consolidou o músico como um dos maiores arranjadores do século XX, influenciando tanto o fusion de bandas como Weather Report e Mahavishnu Orchestra quanto a abordagem sinfônica do rock experimental que floresceria nos anos seguintes.

O disco representa Zappa em seu modo mais livre: sem concessões, sem fórmulas, apenas o som de um gênio explorando os limites entre o erudito e o popular. É um dos pontos mais altos de toda a sua discografia, uma aula de composição e orquestração que permanece tão moderna e provocante quanto em 1972.


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