O universo paralelo do Anthrax em The Greater of Two Evils (2004): e se John Bush tivesse cantado tudo desde o começo?
The Greater of Two Evils (2004) é um daqueles discos que dividem instantaneamente a audiência, mas que, vinte anos depois, revelam um retrato muito específico do Anthrax. Não é uma coletânea, não é um álbum novo: é um experimento. E, como todo experimento, diz muito sobre o momento da banda e sobre como ela enxergava o próprio legado no início dos anos 2000.
A ideia surgiu depois de uma votação no site oficial: os fãs escolheram quais músicas da fase clássica gostariam de ouvir na voz de John Bush, então vocalista e um dos pilares da reinvenção do grupo nos anos 1990. O Anthrax entrou no Avatar Studios em janeiro de 2004 e regravou tudo praticamente ao vivo em estúdio. O resultado é um choque temporal: clássicos das eras Neil Turbin e Joey Belladonna reinterpretados por uma formação mais pesada, mais seca e moldada pelas experiências pós-Sound of White Noise (1993).
A energia crua dessas sessões é o que define o álbum. Não há a polidez juvenil dos originais, nem a atmosfera caricatural do thrash oitentista. Em vez disso, a banda entrega versões mais densas, com guitarras mais encorpadas e a pegada firme de Scott Ian e Charlie Benante guiando tudo como se estivesse diante de um setlist ideal para a estrada. Bush, por sua vez, nunca tenta imitar ninguém. Ele canta “Madhouse”, “Caught in a Mosh”, “A.I.R.” e “Deathrider” com a mesma postura que sempre teve: direta, intensa, agressiva. Para quem cresceu ouvindo sua voz na fase 1992–2003, essas releituras soam naturais. Já para os puristas, são inevitavelmente estranhas.
E é aí que mora o mérito — e o incômodo — de The Greater of Two Evils. O disco não quer substituir nada. Ele funciona como um registro paralelo de uma banda que, naquela época, não fazia ideia de que a reunião com Joey Belladonna se aproximava. É quase um “e se?” em forma de álbum: e se o Anthrax tivesse seguido com Bush desde o início? Como soariam aqueles hinos thrash filtrados pela estética mais moderna da fase We’ve Come for You All (2003)? A resposta está aqui: brutal, honesta e cheia de personalidade.
Se você encara a discografia do Anthrax como um organismo vivo, com fases, rupturas e retornos, The Greater of Two Evils é uma peça importante — não pela necessidade das regravações, mas pela sinceridade com que elas foram feitas. Se prefere os originais intocáveis, nada vai mudar sua opinião. Mas, se você gosta de revisitar clássicos sob outra luz, esse álbum é um prato cheio: um mergulho naquilo que poderia ter sido e, por isso mesmo, um capítulo fascinante dentro da história da banda.
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Opa!!! Não conhecia esse álbum. Vou buscar para ouvir.
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