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Pantera e a perfeição brutal de Far Beyond Driven (1994)


Quando saiu em março de 1994, Far Beyond Driven soou como uma provocação: até onde uma banda no cast de uma grande gravadora poderia ir mantendo o metal extremo no centro da equação? O Pantera já vinha de Vulgar Display of Power (1992), um disco que praticamente redefiniu a brutalidade dos anos 1990, mas aqui a banda empurra tudo ainda mais para frente — mais pesado, mais seco, mais inflexível. Em termos de atitude e intensidade, este é provavelmente o álbum mais extremo que já alcançou o topo da Billboard.

O que impressiona em Far Beyond Driven é a coerência estética. As guitarras de Dimebag Darrell soam como serras industriais: riffs curtos, construídos com aquela lógica do groove metal que misturava thrash, hardcore e uma noção quase percussiva de composição. Rex Brown acompanha com um baixo que vibra no peito, sempre em diálogo com a bateria monstruosa de Vinnie Paul, cujo som parece esculpido para bater seco, sem espaço para respiro. Sobre esse paredão, Phil Anselmo entrega um dos registros vocais mais intensos da carreira — não há concessão, não há melodia suave esperando o ouvinte depois do refrão.

A abertura com “Strength Beyond Strength” já determina o terreno: sem introdução, sem clima, apenas uma avalanche que coloca todas as marcas registradas do Pantera em jogo. “5 Minutes Alone” é um hino absoluto do groove metal, uma faixa que condensa a fúria rítmica do quarteto com um riff que gruda na memória. “I’m Broken”, talvez a música mais emblemática do álbum, faz o que o Pantera sempre soube fazer de melhor: transformar dor, frustração e agressividade em groove — pesado, mas incrivelmente funcional.

Nem tudo aqui é ataque frontal. A versão de “Planet Caravan”, do Black Sabbath, funciona quase como uma brecha climática no meio do caos. É atmosférica, envolvente e mostra que, por trás da imagem brutal da banda, havia também uma sensibilidade sonora maior do que muitos críticos da época estavam dispostos a admitir.


O resultado geral é um disco de risco, feito por uma banda que sabia exatamente o que queria comunicar naquele momento. Far Beyond Driven é tão abrasivo que, por vezes, parece rejeitar a ideia de acessibilidade, e é justamente por isso que ele se tornou um marco. Era pesado demais para ser mainstream, mas grande demais para ser underground. Um paradoxo perfeito para os anos 1990.

Três décadas depois, o álbum permanece como um documento raro: um pico de popularidade conquistado sem afrouxar nenhum parafuso na estrutura musical. É o Pantera levado ao extremo, destilado e ampliado, e ainda hoje um dos registros mais influentes para tudo que combina groove, violência e precisão no metal.

Se você quer entender por que o Pantera se tornou tão grande e tão decisivo para a música pesada moderna, Far Beyond Driven segue sendo um ponto obrigatório. Um disco que não pede desculpas e não oferece alívio. Ele simplesmente avança. E arrasta tudo pelo caminho.

O álbum estava fora de catálogo no Brasil desde 2014, e retorna agora em uma nova edição lançada pela Wikimetal/Warner em CD slipcase, com encarte em formato de pôster. Uma oportunidade de ter em sua coleção um dos discos mais emblemáticos do metal dos anos 1990.

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