Pular para o conteúdo principal

The Spaghetti Incident? (1993): o disco que o Guns N’ Roses precisava, mas que quase ninguém pediu


Quando chegou às lojas em 23 de novembro de 1993, The Spaghetti Incident? já nasceu marcado por duas expectativas conflitantes: de um lado, o peso de suceder Use Your Illusion I & II (1991), dois dos maiores eventos rock do início dos anos 1990. De outro, a evidente sensação de que o Guns N’ Roses queria tirar o pé do acelerador. É justamente nesse intervalo — entre a megalomania e a descompressão — que o álbum encontra sua razão de existir.

O disco é composto inteiramente por covers, principalmente do universo punk, glam e hard setentista. A proposta é direta: revisitar as músicas que moldaram os integrantes, especialmente o baixista Duff McKagan, cuja influência permeia praticamente todo o repertório. A leitura do GN’R para “Attitude”, do Misfits, e “Ain’t It Fun”, do Dead Boys, mostra uma banda confortável, tocando solta e sem o formalismo que cercava cada passo da fase Illusion. Há energia, há pegada, há vontade de tocar — algo que nem sempre transparecia nos anos anteriores.

Curiosamente, o grande destaque do álbum vem de um desvio completo da estética punk: “Since I Don’t Have You”, originalmente dos The Skyliners, se transforma em uma das releituras mais elegantes já gravadas pela banda. Axl Rose entrega um vocal inspirado e melodramático na medida certa, enquanto Slash conduz a música com um fraseado limpo e cheio de personalidade. É a faixa que resistiu melhor ao tempo e que, mesmo hoje, carrega uma assinatura inconfundível do grupo.

Por outro lado, o álbum sofre com um problema inevitável: ele parece pequeno demais para o tamanho do Guns N’ Roses. Não por falta de qualidade técnica — tudo aqui é muito bem tocado —, mas por ausência de propósito mais profundo. A banda soa despretensiosa, e isso tem duas leituras: para quem queria apenas ver o GN’R tocando rápido, sujo e direto, o disco é uma delícia, mas para quem esperava um novo marco, a obra passa como um registro simpático, porém menor.


E é impossível falar de The Spaghetti Incident? sem mencionar a polêmica em torno da faixa oculta “Look at Your Game, Girl”, composta por Charles Manson. Ainda que não haja louvação ao autor e que a inclusão tenha sido tratada como uma provocação mal calculada, o episódio dominou parte da narrativa e acabou ofuscando discussões musicais mais interessantes. Com o tempo, a polêmica se diluiu, mas nunca desapareceu por completo.

Em termos comerciais, o disco vendeu bem, mas ficou longe do impacto da fase anterior. Ele cumpre sua função como documento: um retrato de uma banda gigantesca tentando reencontrar o prazer simples de tocar, longe da grandiosidade e dos conflitos que acabariam explodindo pouco depois.

The Spaghetti Incident? não é essencial na discografia do Guns N’ Roses, mas é revelador. Mostra suas influências, suas tensões internas, suas necessidades criativas e sua relação com o próprio passado. Não é um disco que muda a vida de ninguém, mas ajuda a entender quem o Guns realmente era naquele momento: uma banda que, depois de conquistar o mundo, só queria soar viva novamente.


Comentários