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Fly on the Wall (1985): quando o AC/DC disse não aos anos 1980


Fly on the Wall
(1985) é o décimo álbum de estúdio do AC/DC e o segundo sem a produção de Robert John “Mutt” Lange, que havia trabalhado nos clássicos Highway to Hell (1979), Back in Black (1980) e For Those About to Rock We Salute You (1981). Aqui, os irmãos Angus e Malcolm Young assumem a produção, buscando retomar o controle criativo da banda em um período complicado para o hard rock tradicional.

No meio da década de 1980, o AC/DC enfrentava um cenário musical em mutação. O glam metal tomava conta das paradas, com bandas como Mötley Crüe e Ratt dominando a MTV. Ao mesmo tempo, o AC/DC tentava se manter relevante após os altos estratosféricos de Back in Black (1980). Fly on the Wall veio após o mediano Flick of the Switch (1983) e foi lançado num momento em que a banda enfrentava críticas, queda de popularidade e até investigações policiais após associações indevidas entre seu nome e crimes nos Estados Unidos — algo que gerou controvérsia, mas também fortaleceu sua postura rebelde.

Ao contrário de muitas bandas que aderiram ao som mais polido e sintetizado dos anos 1980, o AC/DC mergulhou em uma abordagem mais crua e direta com Fly on the Wall. O álbum é marcado por uma produção enxuta, guitarras mais sujas e uma atmosfera quase de ensaio de garagem. A voz de Brian Johnson aparece soterrada na mixagem — uma das críticas mais frequentes ao disco —, mas isso também contribui para o clima abafado e áspero da obra. A sonoridade reforça o blues rock tradicional da banda, mas com uma pegada mais sombria e até ligeiramente punk em alguns momentos. O disco mostra um AC/DC orgulhosamente fiel às suas raízes, mesmo que à custa de inovações.


Apesar de não ser um dos títulos mais celebrados da discografia da banda, Fly on the Wall guarda momentos interessantes e com energia de sobra. "Fly on the Wall", a faixa-título, abre o disco com um riff contagiante e atmosfera quase sinistra. Um bom exemplo do tom mais seco do álbum. "Shake Your Foundations", o maior sucesso do álbum, ganhou até uma versão remixada para a coletânea Who Made Who (1986). É talvez a música mais próxima do AC/DC clássico aqui. "Sink the Pink", com refrão pegajoso e groove dançante, mostra a habilidade da banda em criar hinos mesmo quando aposta em estruturas mais simples. Já "Playing with Girls" e "Back in Business" são menos lembradas, mas apresentam riffs sólidos e aquele espírito debochado característico do AC/DC.

Na época, Fly on the Wall foi recebido com críticas mistas. Muitos consideraram o disco repetitivo, com produção deficiente e abaixo do padrão da banda. De fato, ele marca talvez o ponto mais baixo comercialmente da carreira do quinteto até então. Ainda assim, vendeu mais de um milhão de cópias nos EUA e consolidou o AC/DC como uma banda com base de fãs leal. Com o tempo, Fly on the Wall passou a ser visto como um trabalho de nicho — mais apreciado por fãs hardcore do que pelo público geral. É um álbum que mostra o AC/DC contra a maré, mantendo sua identidade quando muitos contemporâneos mudavam o som em busca de sucesso radiofônico.

Fly on the Wall pode não figurar entre os clássicos do AC/DC, mas tem seu valor como retrato de uma banda que se recusava a seguir modismos. É cru, direto e honesto. Para quem aprecia o som bruto e sem firulas dos irmãos Young, oferece uma dose vigorosa de rock and roll resistente às pressões comerciais.

Se Back in Black é o AC/DC no auge, Fly on the Wall é o AC/DC na trincheira — e ainda assim, plugado em um Marshall no talo.


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