PTSD Radio: Frequências do Terror Vol. 2: o terror que se propaga em silêncio (Masaaki Nakayama, 2025, Pipoca & Nanquim)
PTSD Radio: Frequências do Terror (Vol. 2 de 3) confirma que Masaaki Nakayama não está interessado em narrar apenas uma boa história de horror. O que ele cria é um estado de desconforto constante, como se cada página fosse um ruído branco que aos poucos se infiltra no leitor. Publicado no Brasil pela Pipoca & Nanquim, o mangá compila o equivalente aos volumes 3 e 4 da edição japonesa, funcionando como um ponto de virada dentro da série.
Nakayama bebe da tradição do terror japonês que sempre valorizou a sugestão em vez da exposição. Mas PTSD Radio tem uma assinatura própria: a de uma rádio que transmite faixas curtas, interrompidas no momento em que a tensão atinge o pico. Essa estrutura fragmentada, quase de zapping televisivo, vai revelando aos poucos uma entidade central — Ogushi-sama, uma força ancestral ligada ao cabelo humano.
No segundo volume, a presença de Ogushi deixa de ser insinuação e se torna a linha de costura entre os diversos relatos. Fios, madeixas e pentes funcionam como vetores de uma maldição que parece se expandir de forma memética, contagiando cada nova narrativa. É aqui que o leitor percebe que não está diante de histórias independentes, mas de um mosaico cuidadosamente fragmentado.
A arte de Nakayama intensifica a experiência. O traço é minucioso, com linhas finas e pretos profundos que criam texturas quase palpáveis. Os closes em couros cabeludos, os fios que invadem quadros e a diagramação irregular dão ao mangá uma pulsação própria. A leitura é constantemente quebrada por cortes bruscos, quadros estreitos ou splash pages sufocantes e assustadoras. Tudo é pensado para desritmar e gerar desconforto — uma sintonia instável que nunca se resolve.
Parte do fascínio de PTSD Radio vem também da aura de “maldição” que envolve a obra. Relatos de infortúnios ligados ao autor durante a produção ganharam força com o tempo, alimentando a ideia de que o próprio mangá seria amaldiçoado. Independentemente da veracidade, o mito conversa diretamente com o tema central: histórias que se propagam como rumores, lendas urbanas que se espalham até se tornarem quase reais. No Japão, a crença de que narrativas carregam energia encontra em PTSD Radio uma atualização assustadora. Nakayama manipula esses elementos como quem sintoniza uma frequência proibida, onde mito e realidade se confundem.
No fim, Frequências do Terror Vol. 2 é onde a série mostra sua real dimensão. É um mangá que não se contenta em assustar — ele se infiltra, se espalha e permanece. Lido dentro da tradição do horror japonês, funciona como um ponto de encontro entre folclore, trauma e a mídia moderna. Mas também pode ser entendido como aquilo que todo bom terror deveria ser: uma maldição que continua reverberando quando o livro já foi fechado.



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