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Quando o thrash encontrou técnica e melodia: Annihilator e o clássico Never, Neverland (1990)


O final dos anos 1980 e o início dos 1990 marcaram a saturação do thrash metal. A cena já havia entregado clássicos incontestáveis – de Metallica, Slayer, Megadeth, Anthrax, Exodus, Testament e tantos outros –, e a fórmula começava a mostrar sinais de desgaste. Foi nesse cenário que surgiu o canadense Annihilator, liderado por Jeff Waters, guitarrista, compositor e mente criativa da banda.

Depois de estrear com Alice in Hell (1989), disco que chamou atenção pela técnica e pelas composições afiadas, o Annihilator voltou um ano depois com Never, Neverland. A diferença crucial estava nos vocais: Randy Rampage saiu, e quem assumiu o microfone foi Coburn Pharr, que havia passado pelo Omen. A troca foi acertada – Pharr trouxe mais alcance e variação, expandindo as possibilidades da banda.

Musicalmente, Never, Neverland é thrash técnico de primeira linha, mas com melodias bem trabalhadas e arranjos inteligentes que se afastam do clichê. Jeff Waters não apenas toca riffs intrincados com uma precisão absurda, como também constrói linhas de guitarra que soam modernas até hoje. O álbum equilibra velocidade, peso e musicalidade de maneira exemplar.

As faixas são consistentes do início ao fim. O clássico absoluto é a faixa-título, com um riff memorável e atmosfera melódica que foge do padrão mais agressivo do gênero. “The Fun Palace” abre o disco em alta rotação, mostrando a técnica absurda de Waters. “Road to Ruin” e “Reduced to Ash” trazem a velocidade típica do thrash, enquanto “Stonewall” se destaca pela temática ecológica – incomum para a época – e pela pegada quase hard rock em alguns momentos.


O impacto de Never, Neverland foi significativo. O disco não teve a mesma exposição comercial das bandas do Big Four, mas consolidou o Annihilator como referência no thrash técnico. Para muitos fãs, é o ponto alto da carreira da banda, mostrando o potencial criativo de Waters no auge da inspiração.

Never, Neverland influenciou gerações de músicos pela técnica, pela forma de compor riffs complexos sem abrir mão da coesão, e pelo modo como equilibra brutalidade e melodia. O álbum continua soando fresco e relevante, sendo considerado um dos discos mais importantes do thrash canadense – e, para alguns, um clássico do metal como um todo.

O álbum estava fora de catálogo em CD no Brasil desde 2002, mas retornou às lojas mais de vinte anos depois em uma nova edição lançada pela Wikimetal com som remasterizado, três faixas bônus e sobrecapa em slipcase. Excelente oportunidade de ter na coleção um dos melhores discos da história do thrash metal.

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