Slowhand (1977) costuma ser citado como o álbum que consolidou, de forma definitiva, a carreira solo de Eric Clapton nos anos 1970. Entre o impacto mais imediato de 461 Ocean Boulevard (1974) e projetos posteriores menos consensuais, este disco representa o ponto em que Clapton encontra um equilíbrio raro entre identidade artística, apelo popular e maturidade musical.
Produzido por Glyn Johns, Slowhand aposta em uma estética limpa, direta e sem excessos. A produção evita camadas desnecessárias e coloca a guitarra de Clapton sempre a serviço da canção, não da pirotecnia. O famoso “menos é mais” aqui não é discurso: é método. Cada frase soa pensada, cada silêncio tem peso, e o timbre seco, quente e muito bem definido ajuda a explicar por que o álbum envelheceu tão bem.
O disco navega com naturalidade entre blues, rock e pop sofisticado. “Cocaine”, composição de J.J. Cale, abre o álbum com uma confiança quase displicente, sustentada por um groove econômico e irresistível. Já “Lay Down Sally” flerta com o country-blues, mostrando um Clapton confortável em territórios mais acessíveis sem soar artificial. O grande cartão de visitas, porém, é “Wonderful Tonight”: uma balada simples, direta e emocionalmente honesta, que se tornou um clássico absoluto e talvez o maior exemplo de como Clapton conseguia dizer muito com pouquíssimas notas.
Outro mérito de Slowhand está na banda afiada e discreta. Nada chama atenção além do necessário, e isso reforça o caráter quase “orgânico” do álbum. É um disco que soa como uma performance controlada, madura, sem a urgência juvenil dos anos com o Cream, mas também sem cair na autoparódia ou no piloto automático.
Do ponto de vista histórico, Slowhand marcou também o auge comercial de Clapton em estúdio, alcançando posições altas nas paradas e vendendo mais de 3 milhões de cópias somente nos Estados Unidos. Mas seu valor vai além dos números. Este é um álbum que ajudou a redefinir o que se esperava de um guitarrista virtuoso nos anos 1970: menos exibicionismo e mais canção, menos velocidade e mais sentimento.
Slowhand não é um disco explosivo. Ele cresce com o tempo, com audições atentas, e revela sua força justamente na contenção. Um clássico silencioso e, talvez por isso mesmo, tão duradouro.
.jpg)

Comentários
Postar um comentário
Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.